terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

À procura do Capitão Gancho

Na trama de J.M. Barrie, Peter Pan é um garoto que se recusa a crescer. No Brasil atual, a PM cumpre o papel do capitão Gancho, mas quais pensamentos bons fazem nossa linda juventude voar quando o vilão oficial não se confirma na vida como ela é?

A mágica da sustentação dissimulada a militantes violentos para tirar a culpa pelo homicídio de um cinegrafista vai de apontar o dedo à PM como maior agressora de jornalistas – omitindo que estes precisam se esconder de “manifestantes”– a iniciante dos confrontos – uma piada involuntária que qualquer um que os cobriu sabe ser tão real quanto uma nota no valor da passagem de ônibus no Rio*.

No entanto, nenhum factoide superou o de tentar apagar a conivência dos arautos da Primavera Carioca, comprovada por suas próprias declarações – por mais que as tentem apagar à soviética, como fez Edilson Silva, da executiva nacional do Psol.

Na Terra do Nunca das redessociais, o clamor não é por uma investigação séria da denúncia de financiamento à violência, mas por enterrá-la a priori, junto com a declaração do suspeito preso de que temia ser morto por “pessoas envolvidas nas manifestações” – e sem nenhuma moção de apoio ao fotógrafo que escondeu a identidade pelo mesmo motivo, após registrar o rojão mortal.

"Com medo de represálias, por ter sofrido ameaças nas ruas durante os protestos, ele preferiu gravar sem mostrar o rosto e sem que o nome dele fosse divulgado", mas foi simplesmente ignorado pelo Sindicato dos Jornalistas, tratado como uma "impessoa".

De volta do conto de fadas, não foi o aumento anual da tarifa – pretexto para o advento das depredações – que revoltou os passageiros. Com a frase “favela não se cala” na camiseta, a militante apelidada Sininho viu usuários do ônibus 474, vindo da favela do Jacaré, abrirem a boca para chamá-la de “patricinha hipócrita”. Não foi por R$ 0,25. Foi contra quem só quer usá-los politicamente.

(Ampliada da coluna originalmente publicada hoje, 19 de fevereiro de 2014, no jornal Destak, sob o título 'Capitão Gancho'. Trechos contínuos em itálico foram acrescidos ao texto original).



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Faixas-bônus

PS:Pouco antes, a mesma, que já chamara um PM de “macaco”, servira de escudo para um companheiro dessa turma cujo lema é ‘Não tem arrego!’ que, após ameaçar outro cinegrafista(“espero que você seja o próximo”).

*PS 2: o mesmo princípio se aplica contra revisionismos retóricos como o do livre-docente da USP que, na Folha de S.Paulo, atribui

à polícia todas as outras mortes em manifestações desde julho, porque se deveriam unicamente às vítimas estarem fugindo de policiais, como se não houvesse nem a hipótese de os conflitos terem sido iniciados por tentou furar bloqueios policiais e os atacou com bombas caseiras e coquetéis molotov.

E isso quando os policiais militares não são os alvos primordiais de espancamentos, como o do coronel Reynaldo Rossi, em outubro, em São Paulo – quando um dos agressores foi indiciado por tentativa de homicídio – e de outro PM no Rio de Janeiro, ainda em junho.

PS 3: Não é à toa que o Lobão titulou seu segundo livro como Manifesto do Nada na Terra do Nunca, sobre este país que se recusa a crescer.

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