Que Paulo Barros? Joãozinho Trinta é que era visionário, vide agora, depois de 25 anos, a evolução da Sapucaí às ruas de seu enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. E com o Aterro do Flamengo adereçado de Novo Gramacho, escorreu do estrato social habituê de seus blocos hype o chorume cultural favorável ao atentado violento à limpeza urbana. Dos teclados de seus modernos smartphones, batucaram gritos como “não limpa!”, ao lado de fotos de belas viagens à Europa.
Enquanto isso, moradores de bairros pobres como Rio das Pedras tinham morros de lixo na porta de casa até ontem. No apoio político, o dualismo foi exposto em ditos como o do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que perguntou “Escolta? Estão tratando garis como bandidos!” e acusou o “governo que os escraviza” – como se não fossem cidadãos livres, que prestaram concurso para a profissão a qual podem deixar quando quiserem, protegidos por essa escolta dos que cometiam o crime de ameaça para intimidá-los a não trabalhar.
Já quando a cubana Ramona Rodríguez deixou o Mais Médicos, no qual ganhava até menos do que um gari e precisava pedir permissão a um agente de seu governo ditatorial para se deslocar no Brasil, o mesmo parlamentar zombou dos colegas “de direita” que a acolheram, por “acusar os médicos cubanos do Mais Médicos de “escravos”” – culpa que eles jamais imputaram a ela, a vítima.
Joãozinho Trinta era mesmo um visionário. Sabia que (pretensos) intelectuais gostam da pobreza (alheia), para usá-la.
Publicada originalmente no jornal Destak, hoje, 12 de março de 2014.