quarta-feira, 23 de abril de 2014

Hoje é festa lá no DCE

Abro esta coluna com o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), para quem era “preciso proteger os fortes dos fracos”, contra a “doença do niilismo”. Volto a outro filósofo, o pernambucano Luiz Felipe Pondé, com quem abrira a coluna da semana passada: coincidentemente, na segunda-feira, bombou seu artigo ressaltando que, no Brasil, “ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher”.

Alvíssaras no outro mundo encantado! O reassa entregou que seus pares não pegam nem resfriado! Houve quem lesse até confissão de inépcia própria: “Pondé anuncia celibato!”, manchetou o (mais involuntariamente) humorístico “Piauí Herald”, sobre o cinquentão e seu texto iniciado com “ser jovem”.

Para usar o linguajar mimético das redessociais, “só que não”... A referência extratextual em outros artigos do casadão Pondé situa a incompetência, tal como a covardia intelectual, onde elas estão: na mediocridade, que “é enturmada e anda em bando”.

Como “as [pessoas] menos dotadas odeiam as mais dotadas”, para livrar-se da maldição dos fracos, convém não ser forte – no sentido intelectual e de personalidade. Quem xinga muito no Twitter contra a existência de intolerantes como Pondé, pratica o puro “Marketing do Bem” por ele definido: não tem “a coragem de alguns de resistir às glórias de fazer parte da torcida e do rebanho”. Como diz o neo-odiado Lobão, “o frouxo unido jamais será indivíduo”. E tal qual nos filmes adolescentes americanos, necessita ser popular.

Originalmente publicada no jornal Destak em 23 de abril de 2014.

PS: reparem no link para o livro do Grande Lobo que ele vaticina "Mas querem saber de uma coisa? Foda-se a patrulha!", pouco antes da frase citada. É, não para quem mendiga curtidas no feice...

PS 2: Esses mesmos que apelam para o marketing pessoal do bem na rede, aproveitando o dia de hoje, podem fazer que nem São Jorge na festinha do DCE, encarando aquela suvaquenta para dizer que pega alguém – quem odeia o Pondé pode adotar o grande pensador Dadá Maravilha como filósofo de cabeceira, melhor que os livre-docentes da USP...

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Caravana Rolidei

O ano era 2007, o mês era agosto e a capital do Acre já concorria com outras 11 cidades a ser uma das sedes da Copa que o Brasil só ganharia o direito de sediar em outubro. Embaixador da candidatura de Rio Branco, José Wilker deu aula sobre o segundo ciclo da borracha, que quase o fez o nascer acreano, pois seu pai saíra do Ceará para virar seringueiro.

A condição de a cidade sediar jogos de Copa do Mundo, porém, pode ser resumida pela cheia que há duas semanas bloqueia a BR-364 e corta sua única ligação rodoviária com o resto do país, levando o Governo do Acre a decretar calamidade pública – vale a pena ver a reportagem do Jornal Hoje de ontem, em que a equipe acompanha um caminhoneiro por 38 horas no percurso de Porto Velho a Rio Branco, de 490 km normalmente percorridos em oito horas.

A aventura inclui espera por balsa para atravessar a área alagada e tráfego 'normal' em um trecho da estrada que se transforma em um charco, com água a mais de um metro de altura, tornando a rodovia invisível por baixo da carreta.

O que por terra empaca, pelo ar não decola e leva o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, a assumir que vai “tapear as obras de modo que você melhore a operacionalidade sem terminá-las como um todo”, ao assumir que o aeroporto de Confins, na Grande BH, não ficará pronto até a Copa, assim como os de outras cinco cidades-sede do torneio: Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba, Salvador e Cuiabá.

Em Porto Alegre, com apenas 1,85% da obra feita, o terminal de passageiros terá sua reforma concluída somente no próximo ano, mas o trabalho todo ainda dura mais dois anos, vai até 2016.

Fortaleza, por exemplo, não teria o aeroporto reformado nem se sediasse os Jogos Olímpicos: só termina em 2017. Mas só fica indignado quem não sabe que Gustavo disse apenas o óbvio.

Vem sendo tapeado quem quer, desde 2007. O próprio Confins tinha plano de privatização desde 2008. Em agosto de 2012, Dilma Rousseff o trocou por parceria público-privada – mais ideologicamente aceitável – com empresas estrangeiras. Só que ninguém quis e o leilão foi feito em novembro de 2013. O vacilo é óbvio, exceto para otimistas como Aldo Rebelo, que devem crer até em neve no Brasil – cuja infra aeroportuária segue tão moderna quanto a Caravana Rolidei.

Publicado originalmente no jornal Destak, em 9 de abril de 2014. Trechos adicionais em itálico.

PS: a rigor, há neve no Brasil, tanto quanto pode haver aeroportos entregues no prazo pela Infraero. Depois de fechado, pensei que seria melhor trocar "Brasil" por "Sertão do Brasil", mas a página já havia ido para a gráfica. Como diria Ritchie, a vida tem dessas coisas – acrescento eu: especialmente quando se trabalha em jornal, que não tem a flexibilidade da internet para alterações a atualizações. The End.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ao Destak

Quem hoje ergue o cálice

“Eu decido quem pode participar”, berrou o militante do PCO ao tentar impedir o trabalho do repórter Caco Barcellos, da TV Globo em uma das manifestações “pacíficas” de junho passado. “Eu sou o povo!”, gritava, com todo seu espírito democrático. De lá para cá, só piorou e até morreu gente, de tanta conivência”.

Na última sexta-feira, a PGR aceitou denúncia do PC do B contra Rachel Sheherazade, âncora do SBT, por achar “até compreensível” reação do grupo que prendeu um ladrão adolescente pelo pescoço. É bem diferente de justificar, mas o partido inventa que ela estimula as pessoas a “sair por aí julgando e executando” e quer ver a opinião dela “investigada”.

A legenda criada para elogiar o legado de Stálin, que executou milhões por crimes de opinião, pode levá-la ao destino do colega José Neumanne Pinto, crítico do Planalto recém-demitido.

Os 50 anos do golpe caem como luva para a militância que, desde antes, só queria uma outra ditadura, de sinal trocado. Não à toa, hoje apoia o uso de médicos cubanos sem o direito sequer de ir-e-vir e com o salário quase todo apreendido pelo regime dos Castro e, no mínimo, se omite sobre mortes e denúncias de tortura na Venezuela.

Você pode até achar que isso tudo é democracia “até demais” e que a ameça vem de 1 (um) deputado ou 1 (um) professor, não das turbas que, cheias de Gramsci e vazias de Voltaire, lhes deram um “cale-se!” aos gritos. Pensando bem, ontem foi o dia perfeito para isso.

Publicada originalmente em 2 de abril de 2014 no jornal Destak

PS: No jornal impresso, a frase "eu sou o povo" saiu como "eu sou povo", o que pode ter confundido seu sentido, da arrogância de se colocar no lugar de quem decide pelos demais

PS2: Outra enorme ameaça foi aquele arremedo pífio de marcha 2.0, bem resumido por Felipe Moura Brasil

Amnésia alcoólica

“Derramar cachaça em automóvel é a coisa mais sem graça de que eu já ouvi falar. Por que cortar assim nossa alegria, já sabendo que o álcool também vai ter que acabar?” Quando fez a pergunta em uma música de 1979, Raul Seixas não poderia imaginar que 35 anos depois o barato alcoólico acabaria mais caro para a presidente Dilma pagar, com o dinheiro do goró alheio, por sua promessa de conta de luz mais barata.

Semana passada, lembrei que o horror com o preço da cerveja no bar bacana que se frequenta por opção contrasta com a indiferença com os impostos extorsivos que se pagam sem opção. Embriagada de otimismo, essa gente boa veria tudo duas vezes, só não enxergaria o óbvio agravamento nos investimentos das empresas energéticas pelo corte forçado – como ainda creria até na existência de ônibus grátis.

Transparente como petróleo, o governo diz agora que a Petrobras só pagou a parte da ex-sócia na compra da refinaria de Pasadena por ter contestado a rentabilidade dela. Desse papo de bêbado se acorda ao se lembrar que, na verdade, a belga Astra Oil resolveu sair da sociedade por não aceitar a imposição da construtora brasileira Odebrechet nos projetos de nossa petrolífera estatal.

O aumento não será tão grande quanto o que a Petrobras precisou bancar pela infelicidade que ela mesma procurou, mas o possível aumento de impostos sobre a cerveja, na qual eles são 56% do preço – e cuja arrecadação cresceu 50% em três anos –, prenuncia uma ressaca.

Publicada originalmente no jornal Destak em 26 de março de 2014

Pior que um mensaleiro

Depois que o STF reloaded extinguiu crime de formação de quadrilha, nenhum político vai pegar prisão em regime fechado pelo mensalão, mas, se depender do governo companheiro de José Dirceu, você pode não escapar – basta deixar de declarar alguma renda, para o coordenador-substituto da Receita, Jorge Caetano, que quer dar oito anos de cadeia ao crime de sonegação fiscal, equiparando-o ao de corrupção.

Em português claro, o mesmo governo que fez a maior corrupção parlamentar da história deste país quer te tornar potencialmente tão criminoso quanto quem usa o seu dinheiro para pagar propina a deputados – bastando um lapso ao declarar o IR, aquele processo tão simples quanto responder à esfinge.Salve Jorge, que o governo anda pobre! Só bateu o recorde de arrecadação em janeiro, mas os R$ 123,7 bilhões foram pouco, menos que a Receita esperava.

O brasileiro trabalha, em média, cinco meses só para pagar impostos, mas o ministro Guido Mantega está achando pouco, por isso cogita aumentá-los neste ano – já que reduzir a inflação não é mesmo com ele.

Enquanto se horrorizam com o preço da cerveja pseudogringa no bar bacana, os ativistas do bem nas redessociais praticam sua eterna quaresma sobre a carga tributária e seu bicampeonato 2012/2013 de recordes em proporção no PIB. Há seu sentido, até porque quem mais a sofre bebe é Brahma no pé-sujo, mas os bons companheiros ameaçam simular qualquer um de ser pior que um mensaleiro.

Publicada originalmente no jornal Destak em 19 de março de 2014

<h1>Viagem ao fundo do Rio</h1>

Dentro do país vindo de sua pior queda de PIB (7,2%) e empregos (3,5 milhões) em dois anos, o estado com piores déficits nesses anos (R$...