quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Violentando os números 33 1/3

O IBGE calculou o menor desemprego no país em outubro desde 2002, e os 5,2% informados acalentaram os devaneios de “único grande país com pleno emprego” tuitados por Dilma Rousseff. Tão genuína quanto um “princípio de (sic) infarto”, tal plenitude bate de frente com as medidas de Guido Mantega para reduzir os gastos com o seguro-desemprego, não encontra respaldo mais nem no pleno otimismo do Ipea de Marcelo Néri e leva a própria presidente a admitir ser “óbvio que alguma coisa não está certa”.

O recuo no discurso, porém, veio seguido de um “vamos modificar isso”, como se o velho mantra da vontade política mudasse fatos, no triunfo do desejo de Dilma. Só que, também em outubro, a taxa de pessoas ocupadas foi a menor desde 2009, quando os efeitos da “marolinha” de 2008 ainda alagavam a economia.

Como o desemprego oficial cai ao mesmo tempo em que há menos gente trabalhando? Isso ocorre porque a taxa se baseia nas procuras por emprego. Quando pessoas param de procurar trabalho, elas param de ser computadas nas estatísticas.

Nos últimos 12 meses, a população ocupada caiu em 87 mil. Os jovens, de 15 a 24 anos são 46% dos desempregados no país, e a chance de continuarem sem trabalho é três vezes maior. Em vez de cortar encargos que dobram o custo do emprego, mas são invisíveis a quem não os banca, o governo “protege” os jovens com meias entradas e o preço do ônibus que se vê na passagem, não o oculto, no subsídio que todos pagam.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Violentando os números 2 ½

Quando, há mais de um mês, critiquei a invasão da Câmara de Vereadores do Rio, leitor, de boa-fé, argumentou que “os ânimos se acirraram quando a PM espancou os professores”. Seu e-mail foi publicado e lhe respondi. Pedi-lhe foto ou vídeo, para publicar na coluna seguinte. Não mandou, mas citou um programa de TV, no qual teria visto toda a violência, o Brasil Urgente, da Bandeirantes, cujas imagens vi e, no entanto, mostram PMs fazendo uso (legal) da força para desfazer a invasão (ilegal) do plenário; nenhum espancamento, porém.

Já os espancamentos do coronel Reynaldo Rossi, em São Paulo, e de outro PM, no Rio, ainda em junho, são claros mas não despertaram nenhuma compaixão dos “artistas e intelectuais”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo contabilizou que a polícia cometeu 77 das 102 agressões a profissionais de imprensa nos protestos – omitiu, porém, que repórteres são forçados a esconder marcas dos veículos para os quais trabalham, ou a usar helicóptero, para não acabarem como uma repórter da TV Record que, no leilão do pré-sal, foi socada pelas costas por militantes covardes - além de ver seu carro de reportagem ser incendiado pelos criminosos, sem nenhuma proteção (Quer um bom motivo para falar mal da polícia? Ei-lo).

Já o 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que, em 2012, a polícia matou 1.890 pessoas no país, com 89 policiais mortos em serviço – um para 21 mortos pela polícia, bem acima do máximo aceitável de um para 12, segundo o FBI. Omite que a maioria dos policiais é morta fora de serviço; só em São Paulo, foram ao menos 106, o que inclui a proporção no padrão do FBI. Dedico a coluna aos que gritam “corra que a polícia vem aí” para colher os dividendos políticos de fingir que ela é sempre a vilã.

PS: Na mesma "luta pela educação" (sic), o sindicato dos empregados das escolas que deu todo o apoio aos milicianos do Black Bloc juntou uma multidão para agredir uma repórter da rádio CBN porque, ali, PMs cumpriram seu dever e impediram a pancadaria em massa - contra 1 (uma, única) pessoa.

(Publicada originalmente hoje, 12 de novembro de 2013, no jornal Destak)

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Violentando os números

Roberto Campos (1917-2001) já nos ensinava que “estatísticas são como o biquíni: o que revelam é interessante, mas o que ocultam é essencial”. Hoje quando a elogiar beleza de uma mulher de biquíni é equiparado a assédio sexual por feministas tão bonitas quanto inteligentes, o Brasil já voltou a passar dos 50 mil homicídios anuais, em 2012. A mesma pesquisa do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) para o 7º Anuário de Segurança Pública, porém, diz que houve mais estupros do que assassinatos no ano passado.

A pesquisa, repercutida sem nenhuma pulga atrás da orelha pelos maiores sites e jornais do país, omite mudança de lei que, em 2009, definiu como “estupro” qualquer “ato libidinoso” não consentido – conceito vago dá margem à denúncia até por um beijo roubado. Não à toa, registros de estupros mais que triplicaram desde os 15 mil de 2005. Em oito anos, o Brasil não se tornou a índia, por mais que feministas insistam em invocar uma “cultura de estupro” condenando as mais prosaicas cantadas.

Enquanto menospreza sua liderança mundial de assassinatos em números absolutos, o país confunde o foco da investigação de crime hediondo com a ampliação indevida de sua tipificação e não melhora em nada como evitá-lo – que o digam as meninas recentemente estupradas em ônibus (foram duas) e na praia do Leblon, no Rio, à luz do dia.

(Sujeito acima, após assaltar os passageiros, 'aproveitou a chance' para estuprar uma passageira, e ainda queimou o filme dos Ramones, que devem estar se revirando em suas tumbas, mas, como é dimenor, não posso mostrar a cara dele. Detalhe: a polícia só o encontrou porque a idade dela não era conhecida em princípio e, por isso, a cara dele foi mostrada)

Levada a cabo, a lei que estuprou a lógica há quatro anos, poderia custar 30 anos sem fiança a Zé Kéti (1921-1999). Não adiantaria nem alegar que “não me leve a mal, hoje é Carnaval”, antes de “beijar-te agora”. Teje preso, seu machista opressor!

Volte na próxima semana para ver mais assunto sobre violentar os números para conceber resultados.

PS: versão aumentada da coluna publicada hoje, 6 de novembro de 2013, no jornal Destak.

PS 2: se você achou estranha a foto ao lado da citação do Roberto Campos, é por que não se trata dele mesmo (há outro autor citado no texto,logo...).

<h1>Viagem ao fundo do Rio</h1>

Dentro do país vindo de sua pior queda de PIB (7,2%) e empregos (3,5 milhões) em dois anos, o estado com piores déficits nesses anos (R$...