terça-feira, 20 de maio de 2014

Volta, Lula. E volta a nado

Na Coreia do Sul, onde os impostos tomam 26,8% do PIB, a presidente Park Geun-hye curvou-se, em rede nacional, para pedir desculpas pelo naufrágio com pelo menos 286 mortos – a maioria, crianças que viajavam em uma excursão da escola pela costa próxima à capital Seul –, apesar de a tragédia ocorrer em excursão escolar privada e de o órgão estatal acusado de lentidão no socorro às vítimas – a guarda costeira – não ser diretamente ligado à Presidência.

No Brasil, onde a carga tributária bateu recorde de 37,65% em 2013, o ex-presidente Lula falou na semana passada do estádio de seu time Corinthians, que só foi construído por influência dele, ainda no Planalto, e só ficará (?) pronto para a abertura da Copa com R$ 400 milhões dos bancos estatais BNDES e Caixa – financiamento amplamente anunciado desde novembro, apesar do qual Lula continua fingido que "não há dinheiro público" para a construção de estádios.

Em vez de desculpas pelo atraso nas obras e pelos três operários mortos na construção (1/3 do total de nove mortes, nos 12 estádios da Copa), insultos contra quem criticou o acesso do Itaquerão à estação de metrô. Não deve ser mesmo agradável se expor andando à meia-noite, após futuros jogos do time, mas, para o ex-presidente, reclamar disso é querer “ir até dentro do estádio” e pedir uma melhor infraestrutura de mobilidade é “babaquice”.

"Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. Mas o que a gente está preocupado é que tem que ter metrô, tem que ir até dentro do estádio? Que babaquice é essa?"

A voz do povo é a voz de Deus, mas só para aplaudir o Narciso, que, sob vaias, até foge, como fez, deixando de fazer a abertura os Jogos Pan-americanos em 2007, no mesmo Maracanã que sediará a final da Copa do Mundo – e que, aliás, tem metrô quase na porta.

Infelizmente, de modo geral, tem funcionado: a uma plateia de blogueiros chapa branca bancados com dinheiro público por estatais e governos do PT e de aliados, o soberano diz que "exigimos é que haja neutralidade e seriedade nas informações", enquanto a própria imprensa a qual ele e seus companheiros chamam de "oposição" reproduz fielmente sua afirmação falsa de que "não há dinheiro público" (sic), sem desmenti-la para informar corretamente os leitores.

Felizmente, O Implicante lembra o que ele disse há quatro invernos:

“Se o Brasil não estiver pronto para Copa, volto a nado da África".

Será que essa promessa ele cumpre?

(Artigo ampliado da coluna publicada originalmente em 21 de maio de 2014 no jornal Destak. Trechos acrescidos em itálico)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Não vote, estude

Se novas pesquisas mudam perspectivas eleitorais, uma certeza é inabalável para 5 de outubro: a despeito de acharem radicais minhas posições liberais, familiares pedirão-me dicas sobre em quem votar – especialmente para deputados, sobre cujos candidatos saberão quase tanto quanto sobre as escalações da seleções de Irã e Bósnia na Copa.

Não é promessa de candidato: como Seu Creysson, agaranctho que, neste ano, não recomendo votos. E nem é vingança por não lerem Ludwig von Mises, Hayek ou Bastiat antes de atacar o que parece tão estranho ao senso comum, mas por convicção de que o conhecimento formador de opções sinceras é pessoal e intransferível.

Nesse fim de semana, 57% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que, se pudessem, nem iriam votar. Se mal conhecem os candidatos e partidos é o melhor que fazem. Escolher o “menos ruim” exige conhecimento que, se por quatro anos, você não teve curiosidade de adquirir, é porque não se importa tanto assim – e nem será de véspera que o conseguirá. Se esse é o seu caso, fique em casa ou vá à praia.

“Por que recomendar a alguém que ‘vá ler mais’?”, questionou, na 2ª-feira, meu amigo Vinícius Albuquerque, editor de SP. Solta, a premissa é pura insinuação de ignorância – localizada, na verdade, em quem a profere, por não saber nem dizer o que (nem por que) ler. O oposto é recomendar determinada leitura ou estudo, por saber que ela acrescentará – há pouco, recebi tal recomendação, de gente inteligente e sincera. Agradeço e me esforçarei.

Publicado originalmente no jornal Destak de 15 de maio de 2014. Reproduzido com alguns acréscimos

<h1>Viagem ao fundo do Rio</h1>

Dentro do país vindo de sua pior queda de PIB (7,2%) e empregos (3,5 milhões) em dois anos, o estado com piores déficits nesses anos (R$...