quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Nocaute em Tarso Genro

Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux. Os dois nomes te dizem algo? Não? No último sábado, o primeiro sagrou-se campeão mundial dos médios-ligeiros pela Associação Mundial de Boxe, em Nova York, enquanto o segundo manteve os cinturões da mesma entidade e da Organização Mundial de Boxe nos supergalos, em Nova Jersey. Seriam só mais dois pugilistas campeões, não tratasse da dupla de cubanos devolvidos, em 2007, pelo governo brasileiro, à ditadura dos irmãos Castro, da qual eles tentavam fugir durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.

“Praticamente imploraram” para voltar a Cuba, disse Tarso Genro, então ministro da Justiça de Lula, enquanto os dois eram isolados à espera do avião venezuelano cedido por Hugo Chávez que os levou para Havana, após serem encontrados pela Polícia Federal.

“Fomos proibidos de conversar com jornalistas ou advogados”, revelou Lara, em 2009, quando ele e Rigondeuax conseguiram finalmente fugir e se refugiar nos EUA– que, ao contrário do Brasil, não os devolveram à ditadura.

Livres, contaram os fatos escondidos dois anos antes. Lara disse ao Estadão se sentir “muito feliz” por ter fugido da ilha, onde fora afastado das lutas, enquanto Rigondeaux – bicampeão olímpico em 2000 e 2004 – era proibido de representar o país em competições, ao contrário da promessa de perdão, caso retornassem.

A matéria do Estadão ainda detalha a forma desesperada como Erislandy fugiu, a exemplo da maioria dos cubanos refugiados e ao contrário de quem – como alegara o ministro – queria voltar para Cuba:

Os dois tiveram de esperar mais dois anos para conseguir se reunir de novo fora de Havana. O primeiro a deixar Cuba foi Lara. O pugilista contou que usou uma lancha em uma praia afastada em Cuba no meio da noite e conseguiu chegar ao México. Rigondeaux também usou o México como plataforma para depois atingir Miami, no último domingo. Os dois pugilistas foram ajudados e incentivados a sair do país pela empresa alemã Arena Box Promotions, acusada por Havana de estar "roubando" seus atletas com promessas de dinheiro fácil.

Detalhe ainda que o maior desejo deles era de tirar a família de lá: Seu sonho, assim como o de Rigondeaux, é conseguir tirar a família de Havana. "Estou estudando como fazer isso. Tenho certeza de que conseguiremos."

A fuga dos cubanos derrubou a versão oficial de quem compactuou com ditadores ideologicamente simpáticos. O sucesso da dupla é um nocaute na conversa fiada de Tarso Genro.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Promoção do Racismo

E não é que o secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial (sic) de São Paulo Netinho de Paula, do PC do B, ganhou um concorrente à altura (não na voz irritante melosa das babas no Negritude Jr.)?

Promotor criminal de São Paulo, Christiano Jorge Santos projeta racismo nos outros e acha que deve intervir na escolha sobre quem apresenta o sorteio dos grupos da Copa do Mundo e abriu inquérito por não ter gostado do boato de Lázaro Ramos e Camila Pitanga, supostamente indicados pela TV Globo, serem preteridos por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert.

O casal de louros já apresentou sorteios da Fifa, como o do logo da Copa de 2014 e sua escolha é normal sob qualquer avaliação que não se baseie em preconceitos, mas o promotor vê racismo na federação internacional de futebol ou na Geo Eventos, organizadora da festa, na despeito das escolhas de Alcione, Olodum e mais quatro músicos negros para os shows do evento: Vanessa da Mata, Emicida, Alexandre Pires e Margareth Menezes.

Acusar a Fifa – talvez a entidade com mais campanhas antirracistas no mundo – só faz sentido no raciocínio de quem trata músicos como escravos: “o branco fica na casa grande e, o negro, na senzala. A apresentação ficou para o apresentador de olho azul. O batuque ficou com o negro”, diz Santos.

“Afirmaram que não são racistas por causa dessas escolhas. Para mim, isso só reafirma o tom racista nessa questão”, exacerba o promotor.

Na melhor das hipóteses, seria uma dedução tão inteligente quanto a do fofoqueiro profissional Leão Lobo, que via no entusiasmo de Thiago Lacerda ao beijar Vanessa Lóes o oposto do que a imagem mostrava: seria a prova de que o ator era gay e pegava a mulher de jeito só para disfarçar.

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Se, em vez de Margareth, a Geo optasse por Claudia Leitte – não obstante a maior popularidade desta última –, o promotor poderia usar a loura para reforçar sua tese. Como as evidências são em contrário, entretanto, ele alega que 6 (seis!) atrações musicais foram escolhidas só para disfarçar o racismo. Trata os elementos não como objeto de análise para conclusão posterior, mas como escravos do triunfo da vontade de sua ideia pré-concebida.

O que é discriminatório, senão tal desprezo ao trabalho que artistas fazem com prazer?

(Acima, músicos que Santos compara a escravos. Que expressões sofridas e infelizes, não?)

Que pessoa, em plena sanidade mental, compara um palco a uma senzala? Quem que conheça um músico não sabe que viver de sua paixão, ao inverso de qualquer trabalho forçado, é o sonho de milhões? Ou os percussionistas do Olodum, por acaso, são castigados a manter o ritmo sob chicotadas? De quem, senão do promotor, vem o tom pejorativo de tratar como reles “batuque” trabalhos que incluem a orgulhosa potência vocal de uma Alcione?

Só que ele ainda vai mais fundo, ao dizer que os atores [Lázaro e Camila] representam de maneira mais adequada a composição étnica e racial do povo do Brasil, ao passo que os atores escolhidos, Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, de raça branca/caucasiana, sob tal aspecto, não.

Santos erra até dentro de seu próprio – e péssimo – critério: com 46,2% de brancos, 45% de pardo e 8% de pretos, segundo o IBGE, o Brasil tem 80% de DNA europeu. Mas é um critério que nem merece consideração. Há 80 anos, o pessoal que mandava e dizia representar os alemães dizia que as pessoas de raça judaica não representavam de maneira adequada a composição étnica e racial do povo da Alemanha. As consequências que conhecemos foram reflexo de tais ideias.

A ausência de qualquer base científica é, de longe, o menor de seus males. Exatos 50 anos após o mais célebre discurso de Martin Luther King Jr., o promotor julga quem é mais ou menos adequado conforme a cor de suas peles.

Adaptada da coluna publicada originalmente hoje, 4 de dezembro de 2013, no jornal Destak, em tamanho. Os trechos em itálico são acréscimos ao conteúdo impresso.

PS.: os lourinhhos à esquerda são o filho do casal, que, para o promotor, "não representam" o Brasil e não são "mais" adequados para apresentar o sorteio da Copa.

<h1>Viagem ao fundo do Rio</h1>

Dentro do país vindo de sua pior queda de PIB (7,2%) e empregos (3,5 milhões) em dois anos, o estado com piores déficits nesses anos (R$...