quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O que não tem explicação

Sabe onde o bando que prendeu um ladrão adolescente pelo pescoço com uma apertada trava de bicicleta foi chamado pela primeira vez de "grupo de criminosos"? Foi na editoria de Brasil do Destak. Independente de seus antecedentes, os envolvidos passaram muito da legítima defesa, já estando ele rendido.

Chamar as coisas pelo que são deveria ser simples, mas nem sempre tem sido. Condenar sem mais delongas a violência de ditos "manifestantes" custa a expulsão do Clube das Pessoas Legais e interrompe o sonho dourado das Jornadas de Junho.

No Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse, após a morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, que "nada justifica a atuação violenta de manifestantes". Concordo; é pena ele ter dito há cinco meses não ser “juiz para ficar avaliando os métodos em si”, quando questionado sobre Black Blocs. Um julgamento negativo poderia ajudar a freá-los então.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio tenta "aproximação" com "manifestantes" para "dirimir a hostilidade nas ruas", enquanto acusa Rachel Sheherazade, âncora do SBT, de "apologia à violência", por achar "compreensível" o que houve no Aterro do Flamengo.

Então em campanha, a atual presidente do sindicato, Paula Máiran, disse que repórteres serem "expulsos ou mesmo agredidos nas manifestações de rua (...) tem explicação". O que não é compreensível nem tem explicação é por que criminosos revidarem a outro criminoso seria menos compreensível do que criminosos agredirem trabalhadores. Mas dizer isso pega mal.

PS: o padrão prosseguiu no desfile da Independência, em 7 de setembro, no Rio de Janeiro, quando, após o repórter Júlio Molica da Globo News ser covardemente agredido e ameaçado de morte – ainda que de forma indireta – por um bando que se autointitula "ninja", o sindicato publicar um texto a respeito cujo "lide da nota sequer cita as agressões cometidas por manifestantes", escondendo-a no pé do artigo e tentando transferir a culpa da agressão aos veículos de comunicação, como ressaltou Fernando Molica, jornalista e pai de Júlio, sobre esses "meninos mimados e violentos que não suportam o contraditório".

Adaptado da coluna publicada originalmente no jornal Destak, em 12 de fevereiro de 2014. O PS em itálico não está no jornal, foi acrescido em seguida.

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