“Derramar cachaça em automóvel é a coisa mais sem graça de que eu já ouvi falar. Por que cortar assim nossa alegria, já sabendo que o álcool também vai ter que acabar?” Quando fez a pergunta em uma música de 1979, Raul Seixas não poderia imaginar que 35 anos depois o barato alcoólico acabaria mais caro para a presidente Dilma pagar, com o dinheiro do goró alheio, por sua promessa de conta de luz mais barata.
Semana passada, lembrei que o horror com o preço da cerveja no bar bacana que se frequenta por opção contrasta com a indiferença com os impostos extorsivos que se pagam sem opção. Embriagada de otimismo, essa gente boa veria tudo duas vezes, só não enxergaria o óbvio agravamento nos investimentos das empresas energéticas pelo corte forçado – como ainda creria até na existência de ônibus grátis.
Transparente como petróleo, o governo diz agora que a Petrobras só pagou a parte da ex-sócia na compra da refinaria de Pasadena por ter contestado a rentabilidade dela. Desse papo de bêbado se acorda ao se lembrar que, na verdade, a belga Astra Oil resolveu sair da sociedade por não aceitar a imposição da construtora brasileira Odebrechet nos projetos de nossa petrolífera estatal.
O aumento não será tão grande quanto o que a Petrobras precisou bancar pela infelicidade que ela mesma procurou, mas o possível aumento de impostos sobre a cerveja, na qual eles são 56% do preço – e cuja arrecadação cresceu 50% em três anos –, prenuncia uma ressaca.
Publicada originalmente no jornal Destak em 26 de março de 2014
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