sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Caô. De um indivíduo aos frouxos unidos

Atualização: o movimento dos que escondem a cara também é apoiado, entre 26 "formadores de opinião" por Chico Buarque, apoiador, por exemplo, da ditadura comunista cubana que proíbe oposição e, só no paredón, matou mais de 17 mil (contando os que morreram no mar tentando fugir, passam de 100 mil). Gente fina.

20 de dezembro de 2006. Nine Out of Ten no palco e eu na sala de primeiros socorros do Circo Voador, meu nariz mais vermelho do que a capa do Transa, mas de sangue mesmo. A noite que começara ali terminou foi no Souza Aguiar. Os detalhes tda porrada são tão pequenos para a eles voltar, mas ela foi uma coisa muito grande, ao ponto de chamar a atenção de quem a podia ver, e não havia porque ser diferente com um artista sempre tão atento ao seu público, ao ponto de, volta e meia, brigar com ele – desde 1968, quando brigava contra autoritarismo de ambos os lados.

Até os dois anos seguintes àquele no qual iniciei, Caetano Veloso não aceitava ordens de ditadores. Agora, a exemplo de seu velho amigo Arnaldo Jabor, quer ser amado, mas investe com muito mais esperteza nessa arte. vai ver por isso, está aliado à juventude tão totalitária em política quanto em estética – ao ponto de dar piti contra o Tom Zé no Tribunal de Feicebúqui, chatiada por o traidor do movimento – cujas contas nenhum Cubo Card paga – ter feito um comercial para a Coca-Cola. E eis que o baiano de Santo Amaro da Purificação, o capitalista independente de facções, que tomava uma Coca-Cola enquanto se consolava como uma canção do pensamento d’ela em casamento, de certa forma inverte posição com o baiano de Irará, de onde contava ter vindo “uma família bonita (sic), comunista”.

De fechar com guru Marcelo Freixo, foi um pulo ao apoio à Intifada dos frouxos, que atacam sempre em bando, apedrejando ônibus e lojas, entre outros exemplos, sem pensar no Haiti nem muito menos em quem está ali, meros mortais, trabalhadores ou não, que podem se machucar. Para esses, Caê também não tá nem aê. A um dia do que após o qual o Brasil jamais será o mesmo, como anteviu Guilherme Fiúza com toda a coragem intelectual que se ausenta da mente dos adesistas, o cantor vai à página da Mídia Ninja (aquela, que se diz jornalística, ligada àquele “coletivo” que pega dinheiro público para promover festivais e não paga os músicos) e fala para todos saírem às ruas mascarados, para “responder à violência sem violência”.

Antes dele, um desintelectual orgânico do grupo, lamenta a proibição das máscaras em “manifestações”, como “ditatorial” “anticonstitucional” e diz que se mascara porque é “fotografado o tempo todo por policiais infiltrados”.

Inversões instantâneas em meio minuto, na ultra-adjetivação que define mais a falta de substância de quem adjetiva do quem é adjetivado. A Constituição garante a expressão no mesmo artigo 5º em que veda o anonimato e o ato de se manifestar é incompatível e o oposto ao de se esconder. Querer fazer “manifestações populares” em praça pública sem o “risco” de ser fotografado, então, só não é mais noviliguístico do que dizer que policiais se infiltram em espaços que são, afinal, públicos.

Nem ele, que fala do suposto medo de levar porrada, nem Caê, que, num caô, se diz oposto à violência dão um “ai” sobre a violência permanente de seus companheiros de “luta”, a qual provavelmente atingiu algum vendedor, jornaleiro ou bancário que já atendeu o cantor em seu Leblon de moradia.

(os burgueses que foram alvos cirúrgicos dos justiceiros sociais)

Outro valente, de cara escondida, mostra que qualquer proibição de “vestimenta pessoal” – como se cobrisse a cara trivialmente, para ir a um show do Caetano, por exemplo – é “uma forma de agressão pessoal”, contra a “individualidade”. Mais inversão simétrica. Esconder a cara transmutando-se em uma massa é a própria negação de qualquer individualidade e agressão pessoal é levar pedradas ou um soco na fuça.

A primeira delas acontece o tempo todo, por essas autodeclaradas pobres vítimas, contra trabalhadores de lanchonetes, passageiros de ônibus, camelôs etc. nessas ditas “manifestações ‘pacíficas’”. A segunda deixa até hoje uma cicatriz no nariz. A exemplo de muitos artistas que param a música quando rola briga, Caetano poderia tê-lo feito, mas, com sua burrice, deixou jorrar sangue demais em um mero indivíduo. Parafraseando Lobão – que, sim, tem razão –, ele prefere se unir aos frouxos unidos.

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